Regeneração Natural com Manejo - Enriquecimento em Formações Florestais e Savânicas

A transferência de sementes, mudas ou mesmo plântulas entre áreas são técnicas utilizada para aumentar a riqueza de espécies e formas de vida que podem ser utilizadas para “enriquecer” de áreas em processo de restauração ou de florestas secundárias degradadas. Muitas vezes, o isolamento dessas áreas dificulta a chegada de novas espécies no sub-bosque. Dessa forma, torna-se necessária a introdução assistida de propágulos de novas espécies nessas áreas para o restabelecimento de interações ecológicas e auto-perpetuação do ambiente a ser recomposto. Essa estratégia envolve o plantio de mudas ou sementes de espécies de diversidade que vão preencher os espaços existentes nos ambientes em recomposição.

O custo e a rapidez para que um local se recomponha depende do seu do nível de degradação e consequentemente do seu potencial de regeneração natural. Assim, quanto mais degradado em termos dos componentes físicos, químicos e biológicos do ambiente, mais tempo e mais oneroso poderá ser a sua recomposição.

No caso da preparação de Projeto de Recomposição de Areas Degradadas ou Alteradas (PRADA), o produtor precisa considerar:

Situação atual

Locais com MÉDIO potencial de regeneração natural, devem apresentar: a) remanescentes naturais da vegetação a ser recomposta relativamente DISTANTES para a dispersão de sementes, b) banco de plântulas (indivíduos de plântulas jovens) e/ou banco de sementes no solo PEQUENO ou em condições ambientais pouco adequadas para sua germinação e desenvolvimento e c) infestação de espécies invasoras competidoras.

Situação atual. Foto: Felipe Ribeiro.

Implantação

Consiste na introdução de sementes e (ou) mudas de espécies nativas, principalmente do grupo de diversidade, em áreas já em processo de recuperação com melhores condições do solo e presença de vegetação nativa. A introdução deve acontecer nas falhas da regeneração ou com a abertura de faixas para a entrada de luz. Visa garantir o desenvolvimento futuro da vegetação e maior biodiversidade.

Implantação. Foto: Felipe Ribeiro.

Resultados Esperados após 2-3 anos

A introdução de espécies de diversidade faz com que a vegetação inicial já seja mais heterogênea. As copas das espécies de recobrimento ocupam a maior parte da área e alguns regenerantes já se destacam com alguns metros de altura, enquanto as espécies de diversidade permanecem menores formando banco de plantas.

Resultados esperados após 2-3 anos. Foto: Felipe Ribeiro.

Resultados Esperados após 10 anos

A vegetação tem característica de formação secundária, que não necessita mais de manejo para seguir o seu desenvolvimento no sentido de alcançar os estádios finais da sucessão, definido pela presença de espécies dos grupos de recobrimento e de diversidade. Nessa etapa, surgem regenerantes originados da chuva de sementes de áreas próximas ou mesmo de plantas do próprio plantio.

Resultados esperados após 10 anos. Foto: Felipe Ribeiro.

Riscos

A intensa cobertura de espécies competidoras ou a degradação do solo podem impedir o crescimento das mudas e (ou) das sementes plantadas e de plantas jovens regenerantes. Além disso, elevada infestação de formigas cortadeiras pode inibir o estabelecimento e o bom crescimento das plantas estabelecidas.

Monitoramento

Porque monitorar?

O sucesso do monitoramento envolve diagnosticar, tomar decisões, intervir e avaliar os resultados da intervenção. Isso permite entender os parâmetros e os processos envolvidos na recomposição. Esse processo se repete no tempo, portanto, a recomposição deve acontecer em etapas, iniciando com áreas relativamente pequenas. Os resultados fornecem orientação para novas intervenções, permitindo encontrar erros e corrigi-los nos próximos plantios. Ações importantes no monitoramento: testar, aprender e corrigir.

O que monitorar?

Estrutura, diversidade e composição da vegetação são parâmetros comumente avaliados na restauração ecológica, pois são capazes de predizer o sucesso de recomposição da vegetação. Parâmetros simples para avaliar sucesso são densidade (número de indivíduos/ área) e riqueza (número de espécies) de plantas e cobertura do solo por diferentes formas de vida (vegetação competidora, solo exposto e árvores, arbustos e herbáceas nativas).

Como monitorar?

Os parâmetros podem ser avaliados por métodos simples. Na linha de amostragem marcada em uma trena no solo, posicionar a cada 50 cm uma vara de 2 m dividida em quatro partes de 50 cm. Em cada uma das quatro partes da vara, avalia-se todos os elementos vegetais que tocam nela. Para avaliar a riqueza de espécies e a densidade de regenerantes lenhosos com mais de 30 cm de altura, estica-se uma trena de 25 m numa faixa 1 m para cada lado da trena e contam-se as plântulas e arvoretas. Imagens fotográficas em épocas diferentes na mesma escala também ajudam a comparar a vegetação nativa, o solo exposto e as plantas competidoras em um mesmo local.

Onde monitorar?

Cada um dos parâmetros acima devem ser monitorados em área representativa do processo de recomposição.

Quando monitorar?

A legislação prevê que o proprietário rural tem 20 anos para a adequação ambiental, assim os parâmetros de sucesso devem ser avaliados periódicamente, de preferência no final da estação chuvosa.

Quem monitora?

Equipe que tenha alguma experiência em identificar e avaliar os parâmetros de sucesso no processo de recomposição da vegetação nativa.

Referências

LE VOURLEGAT, J. M. G.; GANDOLFI, S.; BRANCALION, P. H. S. Enriquecimento de floresta em restauração por meio de semeadura direta de lianas. Hoehnea, v. 40, n. 3, p. 465-472, 2013.

EMBRAPA. Código florestal: estratégia de recuperação: regeneração natural com manejo: enriquecimento. Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigo-florestal/enriquecimento>. Acesso em: 07 out. 2017.

PIERRO, B. de. Modos de restaurar as florestas: iniciativas testam soluções para recuperar a vegetação de áreas degradadas. Pesquisa FAPESP, v. 238, p. 32-35, dez. 2015.

SANTOS, M. B. dos. Enriquecimento de uma floresta em restauração através da transferência de plântulas da regeneração natural e da introdução de plântulas e mudas. 2011. 115 p. Mestrado (Dissertação em Conservação de Ecossistemas Florestais) - ESALQ/USP, Piracicaba.