This is an old revision of the document!
Conhecer o ciclo de vida e as diferentes estratégias de crescimento das espécies é fundamental no planejamento dos plantios de recomposição das diversas formações vegetais.
É importante considerar que o processo de recomposição é algo dinâmico e se espera atingir uma vegetação capaz de se autossustentar por muitos anos. Para isso, é importante que a seleção das espécies para plantio contemple diferentes grupos ecológicos, desde aqueles com crescimento mais rápido, que irão ocupar e recobrir o solo em curto tempo, quanto aqueles que se desenvolvem mais lentamente, que irão dominar a área em fases mais avançadas.
A presença de espécies de diferentes grupos ecológicos busca garantir a cobertura do solo desde os primeiros meses de plantio, evitando erosão e utilizando imediatamente os recursos disponíveis nas áreas preparadas para recomposição. A cobertura constante de espécies nativas exerce funções ecossistêmicas de atração de polinizadores, herbívoros e interações com os microrganismos do solo.
Independentemente do método de plantio, é importante considerar plantas de diferentes ciclos e formas de vida no consórcio de espécies a ser implantado na recomposição para que esta demande menos manejo após o plantio, e que a vegetação implantada possa seguir sua trajetória natural de regeneração ao longo do tempo.
Para recompor formações florestais, essa ideia vem sendo trabalhada no conceito da “sucessão ecológica”, um processo de formação da vegetação que envolve diferentes etapas, desde a colonização do ambiente por algumas espécies pioneiras até o estabelecimento de uma grande diversidade de espécies mais tardias. Para isso, espécies de diferentes etapas sucessionais são plantadas de modo que haja fases de dominância de plantas herbáceo-arbustivas ou lenhosas de crescimento rápido e ciclo de vida curto, até espécies de árvores longevas de crescimento lento, que garantirão a estrutura florestal autossustentada por décadas.
Para orientar a escolha das espécies para recomposição, as espécies estão categorizadas em quatro grupos ecológicos (Figura abaixo), considerando suas diferentes formas e ciclos de vida, que se destacam quatro fases do processo de recomposição sugerindo-se que sejam incluídas espécies de todos os grupos na recomposição:
Nas formações florestais, os quatro grupos ecológicos coincidem com as quatro fases do processo de recomposição, em que as etapas da sucessão ecológica são mais evidentes. Para compor o grupo FL1, são sugeridas espécies herbáceas e arbustivas nativas, agrícolas ou de adubação verde, capazes de cobrir o solo nos primeiros meses e permanecer durante o primeiro ano após o plantio, como feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), abóbora (Cucurbita spp.), crotalária (Crotalaria spectabilis), gergelim (Sesamum indicum) e até milho (Zea mays). Passado o seu curto ciclo, essas espécies tendem a sair do sistema, mas poderão ser usadas novamente em caso de distúrbios durante a recomposição, como reabertura de clareiras ou recolonização de espécies exóticas invasoras.
Exemplo da dinâmica da comunidade vegetal esperada na recomposição de formações florestais em uma situação sem distúrbios. O plantio de espécies dos grupos ecológicos FL1, FL2, FL3 e FL4 possibilita uma dinâmica em que as diferentes plantas se destaquem na vegetação nas seguintes fases: até 1 ano, de 1 a 4 anos, de 4 a 10 anos e após 10 anos de idade dos plantios. Fonte: Adaptado de Vieira et al. (2020)
Nas formações savânicas e campestres, a cobertura de espécies lenhosas (árvores e arbustos) varia dependendo da performance dos indivíduos e ainda em função da capacidade de suporte oferecida pelo local de estabelecimento. As mudanças nesses ambientes também podem levar vários anos, devido ao lento desenvolvimento da porção aérea da maioria das espécies, e os diferentes grupos de espécies tendem a ocupar a área em recomposição ao mesmo tempo, de modo que as etapas sucessionais e as comunidades de transição não são evidentes. É importante considerar ainda que, para recompor savanas e campos, além do plantio das espécies de crescimento mais lento, deve-se selecionar também espécies capazes de recobrir o solo, como gramíneas e outras herbáceas nativas, e espécies que sejam resistentes ao fogo.
Dessa forma, para recompor formações savânicas ou campestres, sugere-se que sejam incluídas nos plantios espécies de quatro grupos ecológicos, que poderão se destacar ou se sobrepor em diferentes fases do processo de recomposição (Figura abaixo):
Para formações campestres, em que a presença de árvores é pouco relevante, sugere-se que se dê preferência para o plantio de espécies dos grupos SC1 e SC2, que incluem plantas herbáceas e subarbustivas.
É importante ressaltar, porém, que mudanças de fases nas formações savânicas não ocorrerão em todas as condições de solo e clima. Solos mais férteis e profundos, além da ausência de fogo, favorecem espécies arbóreas, enquanto solos rasos, arenosos e com queimadas frequentes favorecem espécies herbáceas, resultando em fitofisionomias como o Cerrado Ralo, ou mesmo em fitofisionomias campestres, como o Campo Sujo ou o Campo Limpo.
Nas diferentes fitofisionomias do bioma Cerrado, por exemplo, espécies de ciclo de vida curto e crescimento rápido também podem permanecer no banco de sementes, colonizando clareiras abertas por distúrbios. Dessa maneira, os diferentes grupos ecológicos plantados no início da recomposição raramente são extintos da área, porém deixam de dominar a vegetação ao longo dos anos em resposta aos seus ciclos de vida e às condições ambientais que favorecem o desenvolvimento de um determinado grupo.
Exemplo da dinâmica da comunidade vegetal esperada na recomposição de formações savânicas em uma situação sem distúrbios. Os grupos ecológicos SC1, SC2, SC3 e SC4 podem se sobrepor ao longo do tempo, mas é possível que as diferentes espécies se destaquem na vegetação nas seguintes fases: até 3 anos, 3 a 5 anos, 5 a 20 anos e após 20 anos de idade dos plantios. Fonte: Adaptado de Vieira et al. (2020)