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webambiente:roteiroprada4

Diagnóstico das áreas a serem recompostas

Este item descreve, em etapas, as condições de cada área do imóvel rural a ser recomposta, com base nas suas características particulares, como os fatores de degradação envolvidos, a estrutura da vegetação e o seu potencial de regeneração natural. Assim, as informações referentes a este item devem ser fornecidas para cada área a ser recomposta, indicando o conjunto de ações que serão feitas para recomposição de cada uma. Por exemplo, em uma propriedade pode haver uma área a ser recomposta de uma APP úmida com alto potencial de regeneração natural e também uma de APP bem drenada com baixo potencial de regeneração natural, demandando métodos e espécies diferentes para implantação da recomposição. Por isso, sugere-se selecionar áreas da propriedade que sejam homogêneas com relação à vegetação original e uso do solo. Diferentes condições demandam diferentes métodos de recomposição e devem gerar diferentes resultados de recomposição. Alterações ambientais em determinada área durante o processo de recomposição (por exemplo: ocorrência de um incêndio) poderá demandar sua subdivisão, destacando a porção afetada e demandando uma estratégia de recomposição diferente da originalmente proposta.

Todas as áreas do imóvel rural a serem recompostas (indicadas no CAR), deverão ser delimitadas em mapa, foto aérea ou imagem de satélite georreferenciados, identificando sua categoria conforme a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Brasil, 2012a) ou seja, se APP, ARL, AUR ou AUA. A imagem da área de recomposição pode ser obtida usando, por exemplo, o software Google Earth Pro®, que é gratuito e possui ferramentas simples para realizar a demarcação e cálculo do tamanho das áreas.

Definição da vegetação original

Cada área a ser recomposta deve ser descrita observando-se a formação da vegetação original (florestal, savânica ou campestre), o uso do solo mais recente (agricultura, pastagem, mineração, outros), as características do solo (tipo de solo, declividade, presença de processos erosivos, entre outros aspectos) e o potencial de regeneração natural da vegetação nativa. A definição da vegetação original, se florestal, savânica ou campestre deve ser feita a partir da observação de remanescentes de vegetação nativa próximos, com características ambientais semelhantes. Podem ser utilizadas também fotos antigas, imagens históricas do Google Earth, relatos de moradores locais, árvores remanescentes, características do solo, como textura, fertilidade e profundidade, pois esses atributos refletem diferentes fitofisionomias e espécies associadas. Porém, é possível que a área a ser recomposta tenha sido muito alterada, seja pela degradação ou pela correção do solo. Nesses casos, a vegetação anterior pode ser um objetivo inalcançável, cabendo ao restaurador avaliar a melhor vegetação para o local, ou trabalhar o solo para restaurar o ambiente original.

A definição da vegetação original a ser recomposta é fundamental, pois isso ditará o objetivo e sucesso a ser alcançado com a recomposição. Os biomas nacionais são compostos por formações florestais, savânicas e campestres, com diferentes fitofisionomias, que apresentam conjuntos particulares de espécies vegetais, que por sua vez crescem e se desenvolvem melhor em determinados tipos de solos. Em formações florestais ocorre o domínio de espécies arbóreas. Nas formações savânicas as espécies arbóreas ocorrem de forma esparsa em meio a um estrato arbustivo/herbáceo bastante desenvolvido. As formações campestres, por sua vez, são dominadas pelo estrato herbáceo e as árvores são praticamente ausentes. Assim, a definição da vegetação influenciará na escolha de quais espécies nativas mais adequadas para plantio na área.

Potencial de regeneração natural

O potencial de regeneração natural é a capacidade do ambiente se recuperar após o abandono de atividades agropecuárias ou outras degradadoras sem a ajuda humana. Ele reflete a capacidade da regeneração natural das espécies nativas locais e regionais. Avaliar o potencial de regeneração natural é fundamental para a escolha do método de recomposição da vegetação nativa. Quanto maior o potencial de regeneração natural, menos esforço é necessário na intervenção. Áreas com alto potencial de regeneração natural podem não necessitar de intervenção, enquanto áreas sem potencial de regeneração exigem plantio em área total. O potencial de regeneração natural da área é diagnosticado a partir da cobertura ou densidade de plantas regenerantes nativas, da cobertura ou densidade de plantas invasoras, da porcentagem de solo exposto e da distância ou cobertura de remanescentes naturais de vegetação vizinhos (Sousa; Vieira, 2017).

O potencial de regeneração natural de uma área pode ser avaliado de maneira simples com fotografias ou com a avaliação do tipo de planta que cobre o solo a cada passo dado na área, em linha reta (método da ponta da bota), ou ao longo de uma trena, a cada metro. Identificamos a cobertura de plantas nativas, invasoras, e solo exposto. Ao longo de um a três anos, repete-se o método e observa-se se plantas nativas ocupam mais espaço na área. Podemos contar os regenerantes (árvores e arbustos que recém germinaram ou rebrotaram de raízes e tocos) e recontar um e dois anos depois, em parcelas com área definida (por exemplo 100 m2). Se a cobertura ou o número de regenerantes aumenta em mais de 10% ao ano, possivelmente a área vai regenerar naturalmente. Se não for possível observar ao longo dos primeiros anos, pode-se considerar, de forma geral, que se uma área já tem 3 mil regenerantes por hectare, é possível que ela não precise de intervenção. Mas é preciso ter outras variáveis em mente. Por exemplo, pode haver 3 mil regenerantes pequenos, estagnados num solo compactado, mas pode haver em outra situação mil regenerantes bem desenvolvidos e que crescem rapidamente. Por isso, observar e considerar a progressão da regeneração no período é melhor que o valor atual (Vieira et al., 2020).

Quantificar a presença de plantas invasoras superabundantes (cobertura e densidade) é fundamental, pois tais plantas competem com as espécies de interesse por água, luz e nutrientes presentes no solo. Nesse caso, o estabelecimento dos regenerantes é dificultado ou mesmo impedido, podendo, ao longo do tempo, perder espaço para as plantas invasoras. A proximidade de remanescentes favorece a dispersão de sementes para as áreas em recomposição e propiciar a ocorrência de novos regenerantes. Contudo, o solo da área deve apresentar condições físicas e químicas adequadas para a germinação das sementes e o estabelecimento das plantas jovens. Solos compactados ou desprovidos de camada de matéria orgânica, irão dificultar ou até impedir esses processos.

Fatores associados à degradação

Deve-se também identificar e descrever os riscos gerais que a área apresenta para a recomposição. Estes riscos estão relacionados à ocorrência de incêndios, atividade pecuária nas adjacências, presença de formigas cortadeiras, ocorrência de processos erosivos do solo (locais ou externos) que possam afetar a área, compactação, entre outros. Essas informações subsidiarão a tomada de decisão quanto à necessidade de previsão de ações reparadoras ou mitigadoras que viabilizem o estabelecimento e desenvolvimento da vegetação regenerante, bem como daquela proveniente do plantio de mudas, semeadura direta ou de propagação vegetativa.

Características do solo

É importante informar ainda sobre a profundidade, textura, condições de drenagem e a capacidade do solo de fornecer nutrientes às plantas encontradas na área a ser recomposta. O conhecimento da Classe do solo também possibilita inferir esses atributos. Essas informações auxiliarão na escolha do conjunto adequado de espécies através do simulador de recomposição do WebAmbiente (https://www.webambiente.gov.br).

webambiente/roteiroprada4.txt · Last modified: 2022/04/01 18:15 (external edit)