Ações para o controle dos fatores de degradação na recomposição
Uma vez elaborado o diagnóstico, o usuário deverá indicar as ações propostas para minimizar ou mesmo eliminar os fatores associados à degradação existentes na área a ser recomposta, bem como em áreas adjacentes. As ações a serem propostas deverão considerar individualmente cada área a ser recomposta (polígono ou gleba) ou um conjunto de polígonos com características homogêneas, como já abordado. Os diferentes fatores de degradação identificados serão tratados a seguir, com algumas explicações ou referências visando eliminá-los ou minimizá-los.
Isolamento da área
O isolamento da área é especialmente necessário quando houver a criação de animais em áreas vizinhas àquelas a serem recompostas (gado ou outras criações), o qual pode requerer, por exemplo, o cercamento visando a proteção das plantas oriundas de regeneração natural ou de plantios. Em áreas mais antigas, os animais causam “bosqueamento”, impedindo a formação do estrato herbáceo-arbustivo, além de promover a compactação do solo reduzindo a capacidade de infiltração de água. O cercamento também é indicado para evitar trânsito de pessoas, máquinas e equipamentos. O isolamento da área também pode se dar pela construção e manutenção de carreadores entre as áreas produtivas e aquelas em recomposição, evitando-se danos à vegetação durante as manobras de máquinas e equipamentos. O tipo de cerca a ser implantada dependerá das características da área e inclinação do terreno, dos animais (se bezerros, vacas leiteiras, touros, ovinos etc), da disponibilidade ou possibilidade de acesso aos materiais para construção, tendo em vista a previsão de sua durabilidade (diferentes números e tipos de fios de arame, estacas, postes, mão de obra disponível). Assim, as cercas podem variar de extremamente simples com arame liso ou farpado às mais sofisticadas, como no caso de cercas eletrificadas. Dessa forma, a escolha do tipo de cerca mais adequada pode requerer uma consulta a um técnico do segmento. Caso seja necessário, deve-se prever o acesso à área a ser recuperada, como por exemplo, em caso de disponibilidade de água e extrativismo sustentável.
Contenção de fogo
É importante indicar as medidas a serem tomadas para a prevenção de incêndios. Seja intencional ou acidental, a ocorrência de queimadas e o consequente alastramento do fogo para as áreas sob regeneração natural e/ ou plantadas é uma séria ameaça ao sucesso da recomposição. No caso de áreas adjacentes a pastagens, o alastramento de fogo pode ser evitado com a construção e manutenção de aceiros ao longo das cercas (preferencialmente de 2 m–3 m de cada lado). O aceiro consiste na eliminação da cobertura vegetal, viva ou morta, presente sobre o solo o que pode ser realizado manualmente com o uso de enxada, ou via mecanizada utilizando trator acoplado com lâmina frontal para raspar e afastar a camada superficial do solo com a vegetação; ou pelo seu revolvimento e incorporação por meio da aragem e/ou gradagem leve do solo, em faixas paralelas às cercas. Em áreas adjacentes a lavouras, e onde não há necessidade de cercas, a proteção da área também pode ser obtida com a manutenção dos carreadores e das áreas de manobras de máquinas sempre livres de cobertura vegetal viva ou morta utilizando-se os mesmos expedientes acima. Em qualquer situação, contudo, a manutenção de uma área de prevenção ao alastramento de fogo deve ser considerada.
Controle de plantas invasoras
Como a existência e a proliferação de plantas invasoras na área em recuperação pode afetar o desenvolvimento das plantas mais novas, sejam aquelas advindas da regeneração natural, incluindo as provenientes de rebrota de raízes ou de ‘chuva de sementes’, ou as estabelecidas via plantio de mudas ou sementes, é importante realizar o controle periódico dessas plantas. Tais plantas competem com as espécies de interesse por água, luz e nutrientes presentes no solo, podendo inviabilizar a estratégia de recuperação. Nesses casos, o aumento da cobertura do solo pelos regenerantes é dificultado ou mesmo impedido, podendo, ao longo do tempo, perder espaço para as plantas invasoras. O controle de plantas competidoras pode se dar por meio de roçado manual, mecanizada, pelo controle químico com o uso de herbicidas de baixo impacto ambiental (em condições passíveis de autorização), em área total ou apenas na coroa, ou ainda pelo uso de plantas de cobertura quando a estratégia de recomposição contemplar plantio. O uso conjugado de métodos de controle também pode ser necessário, dependendo da estratégia adotada, da categoria da área (ex: se APP), do estado de competição e das plantas invasoras predominantes.
Controle de formigas cortadeiras
Os danos causados por formigas cortadeiras também podem comprometer a estratégia de recuperação, em especial devido aos danos causados às plantas jovens da regeneração natural ou mesmo de plantios. O monitoramento periódico das formigas deve ser feito continuamente, indicando os produtos, doses e frequência de aplicação. O controle deve começar logo após a limpeza e preparo da área, pelo menos 30 dias antes do plantio. Os tipos mais comuns de formigas cortadeiras são as saúvas (Atta spp.) e as quenquéns (Acromyrmex spp). O controle contempla:
a) A identificação e marcação de carreadores e olheiros.
b) A aplicação dos produtos mais adequados.
c) O monitoramento do controle.
Entre os produtos ou métodos de controle disponíveis podem ser citados:
a) Iscas granuladas, as quais podem ser distribuídas ao longo dos carreadores, em porta-iscas para evitar o seu umedecimento, ou mesmo na forma de sachês.
b) Formicidas em pó seco ou via úmida.
c) Termonebulização.
Cada método de controle prevê o uso de princípios ativos e equipamentos diferentes e requer que sejam considerados o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI) e as recomendações do fabricante. Em caso de dúvidas, procurar um profissional habilitado. Em sistemas agroflorestais ou em áreas onde há restrições ao uso de agrotóxicos, recomenda-se o uso de agentes de controle biológico, ou o uso de formulações à base de produtos naturais como, por exemplo, à base de gergelim ou mamona.
Descompactação do solo
É importante descrever também as ações a serem implantadas em cada polígono no caso de ter sido identificada a compactação do solo. Essa compactação pode ser decorrente de vários fatores, como a falta de cobertura do solo com vegetação (solo exposto), movimentação de máquinas e implementos agrícolas na área, ou pastoreio intensivo e, cada uma delas pode ter uma solução particular. A superfície do solo compactado, além de favorecer o escorrimento de água superficial, dificultando sua infiltração, pode dificultar ou mesmo impedir o estabelecimento do plantio e a germinação de sementes provenientes de outras áreas. As medidas a serem tomadas dependem do estado de compactação e devem ser avaliadas caso a caso, podendo requerer uma escarificação da superfície ou necessitar de outros equipamentos e intervenções mais intensas.
Eliminação ou mitigação de processos erosivos
Se foram identificados processos erosivos nas áreas a serem recompostas devem ser indicados os procedimentos para a sua correção, pois sua permanência pode afetar o sucesso da recomposição. Conforme o tipo de erosão e a sua extensão, esses procedimentos podem ser mais ou menos intensos. A partir da retirada da cobertura vegetal, o solo fica exposto à erosão eólica ou hídrica que é caracterizada por processos que se dão em três fases: desagregação, transporte e deposição. Entre as técnicas dispostas na aba “Boas práticas agrícolas” do site do código florestal da Embrapa (https://www. embrapa.br/codigo-florestal/boas-praticas-agricolas) destaca-se o controle de processos erosivos lineares (ravinas e voçorocas) que acontecem principalmente em solos arenosos. Sendo assim, neste campo o usuário deve indicar os procedimentos a serem adotados para este tipo de problema se encontrado na sua área.
Recuperação da fertilidade do solo
A fertilidade do solo pode ser recuperada com a aplicação de fertilizantes ou mesmo de uma maneira simples e barata através do plantio de adubos verdes ou culturas de cobertura, que adicionam matéria orgânica e nitrogênio ao solo, aumentam a atividade biológica e recuperam nutrientes lixiviados (lavados) para as camadas mais profundas ou outras áreas. Técnicas disponíveis na aba “Boas práticas agrícolas” do site do Código Florestal da Embrapa (https://www.embrapa.br/codigo-florestal/boas-praticas-agricolas) podem ser indicadas para esta recuperação.
Outras medidas
Deve ser lembrado que fatores de degradação existentes fora da área a ser recomposta também podem influenciar severamente na recomposição. Assim, deve ser avaliado e levado em conta a necessidade da adoção de outras medidas para a mitigação ou eliminação desses fatores, como a contenção de processos erosivos em áreas adjacentes. O uso indiscriminado de agrotóxicos em propriedades vizinhas também pode contaminar o solo e mesmo a água do lençol freático. Entre as medidas cujo emprego deve ser avaliado, podem ser citadas a necessidade de manutenção de estradas e carreadores adjacentes, e a instalação de drenos no controle do fluxo de águas pluviais; implantação de pequenas barragens e a construção de terraços em áreas agrícolas e pastagens adjacentes, evitando que as enxurradas adentrem as áreas em recomposição; entre outros. Técnicas indicadas na aba “Boas práticas agrícolas” do site do código florestal da Embrapa (https://www.embrapa.br/codigo-florestal/boas-praticas-agricolas) são indicadas para diferentes situações possíveis para esta recuperação.
Formas de plantio
Veja abaixo as vantagens e desvantagens de diferentes formas de plantio.
Plantio de mudas
Neste processo, mudas são produzidas em viveiro (Oliveira et al., 2016) antes de seu plantio em campo, procedimento feito de modo aleatório ou sistemático (em linhas), com espaçamentos diversos que podem variar em função da ecologia da espécie considerada, do relevo, do tipo de vegetação a ser restaurado e da velocidade com que se quer recobrir o solo. Os espaçamentos entre as mudas plantadas mais usuais são 2 m x 2 m (2,5 mil plantas por hectare) e 3 m x 2 m (1.667 plantas por hectare), que deve estar indicado no croqui dos plantios. Caso se planeje fazer o controle da matocompetição por via de roçadeiras mecanizadas acopladas a trator, também é importante ajustar o espaçamento mais adequado para isso. Os plantios podem ser feitos em várias formas de arranjo de espécies em função da ecologia e da disponibilidade de mudas, por exemplo, alternando linhas com espécies de recobrimento (de rápido crescimento) e linhas com espécies de diversidade (de crescimento mais lento). As linhas de recobrimento podem ser preenchidas, por exemplo, por apenas três a cinco espécies. Espécies de recobrimento fecham o dossel em dois anos, reduzindo a necessidade de manutenção e melhorando a qualidade do solo, contudo possuem um ciclo de vida muito curto, de cerca de 10 anos. Nesse caso, as espécies que compõem as linhas de diversidade são de diferentes portes e possuem ciclos de vida mais longos determinando a estrutura da vegetação no futuro. A necessidade de controle de gramíneas exóticas, bem como da redução das atividades envolvendo capina manual ou química, tem levado ao uso de plantas de recobrimento nas entrelinhas de plantio (ex: feijão-guandu ou fedegosão). O controle de plantas indesejáveis deve ser realizado no mínimo por dois anos, ou até que as plantas invasoras, como capins exóticos, sejam sombreadas. É importante mencionar que estas indicações são com base em experiências em ambientes florestais, destacando que para ambientes savânicos ou campestres os espaçamentos podem ser maiores e devem também levar em consideração outras formas biológicas.
Semeadura direta
O método consiste na disposição de sementes diretamente no local da recomposição, sejam em pequenas covas ou em linhas (sulcos) com espaçamentos predefinidos, ou a lançar em área total. A semeadura direta pode ser realizada manualmente, mecanicamente ou de forma conjunta (Vieira et al., 2020).
A seleção de espécies a serem utilizadas na semeadura direta deverá considerar a existência de dormência e os procedimentos para sua superação.
São utilizadas sementes de espécies pertencentes a diversos estágios de sucessão (pioneiras e não-pioneiras) permitindo que haja o recobrimento do solo desde os primeiros meses até a estruturação da vegetação, incluindo os estratos herbáceos e arbustivos. Ou seja, são utilizadas espécies de ciclos curtos, incluindo diversas espécies agrícolas e de cobertura e também espécies de ciclos longos, as quais vão garantir a permanência da vegetação no longo prazo.
Uma das características de destaque do método é a utilização de grande quantidade de sementes e semeadura em alta densidade. Como a perda de sementes na operação pode ser maior que o considerado na produção de mudas, o custo de sua utilização deve ser avaliado em cada região, considerando os gastos envolvidos na coleta ou compra de sementes, local ou regionalmente.
Semeadura direta
Muito conhecimento sobre semeadura direta foi acumulado no Brasil nos últimos anos, em especial pela sua larga utilização na Campanha Y’ Ikatu Xingu na recomposição de áreas de nascentes na bacia do rio Xingu. O método consiste na disposição de sementes diretamente no local da recomposição, sejam em pequenas covas ou em linhas (sulcos) com espaçamentos predefinidos, ou a lanço em área total. A semeadura direta pode ser realizada forma manual, mecanicamente ou de forma conjunta (REFERÊNCIAS..).
A seleção de espécies a serem utilizadas via semeadura direta deverá considerar a existência de dormência e os procedimentos para sua superação. São utilizadas sementes de espécies pertencentes a diversas classes de sucessão (pioneiras e não-pioneiras) permitindo que haja o recobrimento do solo desde os primeiros meses até a estruturação da vegetação, incluindo os estratos herbáceos e arbustivos. Ou seja, são utilizadas espécies de ciclos curtos, incluindo diversas espécies agrícolas e de cobertura e também espécies de ciclos longos, as quais vão garantir a permanência da vegetação no longo prazo.
Uma das características de destaque do método é a utilização de um grande quantidade de sementes e semeadura em alta densidade. Como a perda de sementes na operação pode ser maior que o considerado na produção de mudas, o custo de sua utilização deve ser avaliado em cada região, considerando os gastos envolvidos na coleta ou compra de sementes, local ou regionalmente.
Formações savânicas, que predominam no bioma Cerrado, por exemplo, consistem em um estrato contínuo de capins e de outras plantas herbáceas, arbustos e árvores esparsas. Assim, o processo de sua recomposição deverá levar em conta todos esses estratos e não apenas um deles em particular. Em áreas alteradas onde houve a introdução de gramíneas exóticas (ex: braquiária) para uso pecuário, mas que não houve compactação do solo, geralmente há um elevado potencial de regeneração da vegetação arbustiva e arbórea, uma vez que o manejo da área não elimina totalmente suas raízes e estolões que permanecem no solo. Contudo, em áreas onde houve um intenso uso de maquinário pesado e aplicação de herbicidas, a intervenção poderá ser necessária. A semeadura de capins, arbustos e árvores tem sido realizada para áreas maiores que 1 ha. Há espécies de gramíneas e arbustos de crescimento muito rápido que deixam o sistema nos primeiros 3 anos. Eles são essenciais para cobrir e estruturar o solo evitando processos erosivos. Depois disso, gramíneas de crescimento rápido e lento ocupam a área de maneira mais perene, enquanto, de um modo geral, os arbustos e árvores crescem mais lentamente.
Propagação vegetativa
A utilização de espécies alimentícias ou de interesse econômico em recomposição, como em sistemas agroflorestais, podem demandar o uso de estacas, raízes, rizomas, colmos, entre outros, como meios de propagação. Isso ocorre, principalmente, pela necessidade de manutenção de características produtivas desejáveis. A exemplo disso, a propagação de diversas fruteiras cultivadas é realizada utilizando-se das técnicas de enxertia e alporquia para seleção de indivíduos geneticamente mais produtivos do ponto de vista econômico. Outro exemplo é a mandioca que tem sua propagação essencialmente baseada na propagação vegetativa por meio de manivas ou a banana cuja propagação ocorre pelo seu caule subterrâneo ou rizoma.
Vantagens e desvantagens de cada forma de plantio
A escolha da forma de plantio ocorrerá de acordo com a capacidade de implantação do produtor rural e dos insumos disponíveis (mudas, sementes, estacas), e principalmente com base nas características das espécies escolhidas para plantio, pois algumas se desenvolvem melhor por mudas, outras por semeadura direta e outras ainda por propagação vegetativa. No Webambiente está disponível para cada espécie nativa uma tabela de atributos sobre essas características para plantio. Porém, de forma geral, a semeadura direta tem se mostrado como a alternativa mais econômica, pois evita os gastos com a produção e manutenção da muda em viveiro e do seu transporte para o campo. Mas como dito anteriormente, essa forma de plantio exige grande quantidade de sementes e a taxa de mortalidade costuma ser maior do que por mudas. Assim, vale considerar a implantação dessas formas de plantio em conjunto, avaliando-se a melhor forma para cada conjunto de espécies, as características do local a ser recomposto, a localização geográfica da propriedade e mesmo os objetivos imediatos do produtor rural que está recompondo. Por exemplo, uma “semeadura de preenchimento” poderia ser feita em área total e posterior enriquecimento florístico com mudas nas falhas onde não houve desenvolvimento dos regenerantes.